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jornalista, escritora e viciada em café.
@neilabahia

Na Semana Santa, faltam peixe e dignidade para a população da Bahia

Por neila santos

A antecipação do laudo técnico, em dois dias, feito pelo CRA (Centro De Recursos Ambientais), não garantiu o pescado na mesa de diversas famílias da região entre os municípios de Madre de Deus, São Francisco do Conde, Santo Amaro e Salinas da Margarida, na Bahia. De acordo com a conclusão da perícia, a causa da mortandade de peixes, que começou no início do mês passado, teria sido causada pelo fenômeno conhecido como maré vermelha, desmentido a informação de contaminação por substância química de origem industrial divulgada, anteriormente, a partir da análise de peixes mortos naquela localidade.

O laudo, encomendado pelo governo do Estado, informa que a proliferação de microalgas da espécie Gymnodynium Sanguineum foi provocado por fatores climáticos associados à grande quantidade de nutrientes nas águas da baía decorrente da falta de chuvas e dos esgotos domésticos, sem tratamento, lançados no mar.

Contudo, os estudos obtidos pela equipe de pesquisadores composta, dentre outros, pelo oceanógrafo Luís Proença, da Univale de Santa Catarina, especialista em maré vermelha, não garantiram a confiabilidade por parte dos moradores, que exigem um outro laudo para comparação. De acordo com os pescadores de Salinas da Margarida, se a maré vermelha sucede de esgotos, o fenômeno deveria ter acontecido em Salvador, capital do estado, onde o número de dejetos despejados nas praias é bem maior.

Contradição – Em certas ocasiões, devido a condições favoráveis de temperatura, pressão e densidade, alguns microorganismos podem se multiplicar rapidamente e crescer excessivamente em número. As células se dividem com velocidade, de forma exponencial e em pouco tempo podem somar vários milhares por litro. A água se transforma em um "caldo" repleto de organismos microscópicos. A depender da coloração desses microrganismos, a água adquire uma tonalidade diferente. Em caso de vermelho a água torna-se rubra, daí o nome de maré vermelha.

No entanto, mesmo não sendo observado nenhum risco ao ser humano, pois o peixe morre por asfixia, a pesca está proibida até o dia 29 de maio e o peixe será retirado do mercado, para incineração. O problema é que, nesta região, as pessoas sobrevivem majoritariamente do que retiram do mar. Pensando nisso o governo vai disponibilizar cestas básicas e liberar o Defeso (programa que prevê um período de paralisação obrigatória da pesca, no qual o pescador recebe um salário), mas só para pescadores cadastrados, o que causou diversos protestos. “Vou passar a Sexta-feira Santa à base de moqueca de ovo, pois é o que dá pra comer”, relatou a pescadora, Meridina Ferreira, 64 anos, ao repórter, Adilson Fonsêca. Sendo assim, a maré vermelha é desculpa para camuflar um mortífero vazamento do gasoduto da Petrobras ou é falta de competência para determinar que praga matou os peixes?

Entenda o caso*:

06.03 – Peixes aparecem mortos na praia de Cabuçu, Em Saubara.
10.03 – Polícia prende 26 acusados de pesca com bomba.
15.03 – Promotoria de Justiça de Santo Amaro instaura inquérito para apurar o problema.
20.03 – CRA alerta para o não-consumo e banho. Em 15 dias, já tinham sido coletadas 20 toneladas de peixes mortos.
24.03 – CRA afirma que a contaminação é de origem química. Já são 50 toneladas.
28.03 – Distribuição de cestas básicas causa tumulto em Saubara.
29.03 – Ibama baixa portaria proibindo a pesca.
30.03 – Maragogipe decreta estado de emergência elevando para sete o número de municípios atingidos e venda de peixe caí 50% em Salvador.
02.03 – Urubus (animais com alta resistência) aparecem mortos em Bom Jesus dos Passos.
04.04 – Petrobras nega vazamento de gasoduto e CRA antecipa laudo que sairia no dia 06.04 desmentindo a contaminação por produto químico industrial.

*Fonte: Jornal A Tarde

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