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jornalista, escritora e viciada em café.
@neilabahia

Vai uma graxa aí, doutor?

Neila Santos

Com 34 anos de profissão, Irineu Francisco Pereira, 63 anos, viúvo, com um filho, descansa sobre cadeira à espera de um freguês que, em épocas de tênis e sandálias plásticas, tornou-se cada vez mais escasso.

Engraxate desde 1971, no Terreiro de Jesus, Centro histórico de Salvador, seu Irineu, como é chamado, fala de quando a Faculdade de Medicina funcionava ali e o final de linha dos ônibus ainda era na Praça da Sé. “Naquele tempo éramos 19 engraxates a gente ganhava bastante dinheiro aqui na praça, tinha os doutores, os estudantes, os cobradores e motoristas que sempre queriam andar ‘na estica’, hoje em dia o pessoal não liga muito”, relembra seu Irineu.

O ofício de engraxate surgiu por volta de 1806 quando um operário poliu, em sinal de respeito, as botas de um general francês e foi recompensado com uma moeda de ouro. Desde então, é comum encontrar, nos grandes centros urbanos, adultos e crianças que tiram das suas latinhas de graxa e escovas o sustento de cada dia.

Na Praça Cairú, parte baixa de Salvador, Danilo Santana Souza, 15 anos, que estuda e mora com a mãe juntamente com seu amigo, de profissão e brincadeiras, Maciel Santos Dantas, 13 anos, que também estuda e mora com os pais, engraxam sapatos para ajudar no sustento da família. “No verão dá até pra tirar um dinheiro, tem gringo, gente daqui, mas no inverno fica difícil”, relata Danilo enquanto esperava um outro amigo.

Alguns profissionais que usam fardamento, a exemplo dos policiais militares, ou ainda os que necessitam de trajes mais formais, como os executivos e advogados, ainda optam por sapatos de couro. Por isso, é mais comum encontrar engraxates em determinados locais de salvador como Comércio, Praça Municipal e avenida Tancredo Neves, áreas onde há um maior contingente dessas pessoas.

Porém, o clima de Salvador e a correria do dia-a-dia induzem o uso de calçados leves como os tênis e as sandálias plásticas. Isso faz com que seja cada vez mais raros pessoas se dedicarem a profissão de engraxate. “Tênis é bem melhor, tem gente que gosta até de usar sujo não precisa ficar limpando todo dia, além do mais não preciso ficar todo ‘becado’ já que onde trabalho não exige essas formalidades com a roupa”, argumenta Cláudio Souza, 26 anos, caixa de um supermercado no Comércio.

A profissão de engraxate está preste a desaparecer? “Claro que não! A moda vai-e-vem, além do mais sempre tem alguém que precisa estar mais arrumado”. Afirma seu Irineu, cheio de convicção. ♥

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