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jornalista, escritora e viciada em café.
@neilabahia

O último dia de inverno



Último dia da conjunção, da entrega. O dia em que as folhas caem seria o derradeiro para exalar a química por todos os poros. No fundo, sabia disso. Fez questão de se entregar totalmente, mas também não sabia fazer diferente. Tentava desembaraçar-se, mas eles eram como os elementos que se ligam e reagem. O que fazer, então, com aquela energia desprendida ou absorvida durante estas transformações? Guardava. Quem sabe poderia oferecê-la aos cães vadios, que andam por aí errantes, se contentando com muito pouco, quase nada. Virariam cães atômicos. Estes seriam gratos a ela para sempre. A rainha dos cães. Soava bonito.

Enchia-se de coragem para tomar distância e saltar, mergulhar num infinito como nunca fizera. Já sabia andar sozinha, vagar sem destino, sem esperar que lhe segurassem a mão. A roer ossos não estava habituada, porém não seria difícil aprender. Era esse o preço que teria de pagar caso quisesse ser livre. Já tinha passado por silêncios, escuridão, tempos de nada e morte. Todo começo é assim. Depois viria a recompensa. Nem que para isso precisasse morrer de novo. Bastava ser fria o suficiente para aceitar. Já havia voltado da morte outras vezes e conhecia o gosto amargo. Contudo, conhecia também o mel. Como as abelhas, preferia o melífluo. Deveria arriscar. E assim foi depois do último dia.


Por Neila, a garota do jornal
Em 12/06/2008

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